"O agronegócio vai passar por um período de grande disrupção, e precisamos estar preparados para isso. É preciso investir em startups que tragam inovação para o setor”. A frase de Francisco Jardim, sócio da SP Ventures, deu o tom às discussões realizadas no painel “Tendências das Agritech para um Mundo em Crescimento.” O debate aconteceu durante o evento Corporate Venture in Brasil, uma iniciativa da Apex-Brasil para estimular o desenvolvimento de programas de corporate venture dentro das empresas brasileiras.
Durante o encontro, Francisco Jardim falou sobre a criação do Pulse, hub de inovação voltado para o agronegócio, lançado em julho deste ano pela Raízen, uma das maiores produtoras de etanol e açúcar do país, em parceria com a SP Ventures. A base da aceleradora fica em Piracicaba, no interior de São Paulo - região que concentra as startups de tecnologia agrícola do país. “Queremos que o Pulse seja um divisor de águas, algo como o que foi o Cubo em São Paulo. Algo extremamente plural e colaborativo” afirmou Jardim.
Segundo Lago, a ideia de criar um hub exclusivo para startups começou como um simples programa interno. “Pedimos para os funcionários da Raízen nos mandarem ideias”, disse. “Mas, depois que fizemos uma seleção, percebemos que precisávamos de mais. Aquelas sugestões não seriam o suficiente para nos adaptarmos ao futuro. Depois de seis meses de planejamento, lançamos o Pulse.”
A proposta é abrigar até doze empresas no espaço, em programas com seis meses de duração. “Não procuramos apenas startups focadas no agronegócio. Existe espaço para fintechs, empresas de mobile commerce ou negócios sociais, desde que suas ideias possam ser aplicadas à agricultura”, afirma Jardim.
Segundo o investidor, não há pressa por resultados. “Queremos ver como os times funcionam e avaliar se existe mercado em potencial para suas ideias. Na minha opinião, a ruptura e a inovação ocorrem muito mais facilmente dentro das startups. Elas conseguem romper com vícios antigos e criar novos cenários”, diz Jardim. “É isso que estamos procurando.”
Mudança na cadeia
“A utilização de bancos de dados na tomada de decisões está mudando a cara do agronegócio”, afirmou Bernardo Nogueira, venture partner da gigante do agronegócio Monsanto, durante o painel sobre as agritechs. Segundo ele, o fazendeiro passou muito tempo tomando decisões importantes com base no que o pai dele fazia, no que os colegas faziam, ou no que ele acreditava que ia dar certo. “O que as agritechs fazem é associar esse aprendizado à aplicação das últimas tecnologias para o campo.”
Nos próximos cinco anos, os maiores competidores virão de outros setores, diz Nogueira. “A Amazon acabou de adquirir o Wholefoods, e o Google já anunciou que está de olho nessa área. Ou seja, temos que ficar prontos, porque essas empresas estão mais abertas a repensar o mercado”, diz Nogueira.
É esse mesmo movimento que está levando as grandes corporações a abrir suas portas para startups em busca de tecnologias disruptivas. “A parceria com os grandes é boa porque dá a quem está começando o direcionamento e as conexões necessárias para avançar”, afirmou Dan Philips, diretor geral da empresa de venture capital Cultivian Sandbox, que também participou do painel.
No futuro, toda a cadeia de fornecimento do agronegócio poderá mudar, na opinião de Nolan Paul, diretor de estratégia e tecnologia na produtora americana Driscoll’s. “Uma grande aposta é o indoor farming, o cultivo em ambientes fechados. Hoje já temos tecnologias que tornam isso possível”, afirma. “Se a tendência se estabelecer, as grandes produtoras precisarão repensar todo sua cadeia de suprimentos.”
Fonte: Época
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